22 nov 2017

A volta dos jogos de tabuleiro

A volta dos jogos de tabuleiro
Compartilhe:

Geeks trocam videogames por jogos de tabuleiro e formam uma comunidade que ganha adeptos no Brasil

Os gráficos e a interatividade dos videogames Playstation 3 e Nintendo Wii não foram suficientes para colocar um fim nos tradicionais jogos de tabuleiro. Tanto que as vendas apontam bons números há, pelo menos, três anos: seu faturamento, hoje, corresponde a 9% do mercado de brinquedos e movimenta cerca de R$ 225 milhões anuais, segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq).

Além de conhecidos como Banco Imobiliário, Detetive e War, estão em alta os eurojogos, que unem competições estratégicas em tabuleiros de design caprichado e jogabilidade complexa. “O que atrai nesse tipo de diversão é que as pessoas interagem muito mais sem a mediação de uma máquina. Os jogadores participam intensamente da estratégia”, diz Vicente Martin Mastrocola, 31 anos, mais conhecido como Vince Vader, professor de Criação Digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, nerd assumido e autor de mais de 30 jogos para celulares, internet e tabuleiros.

Um dos jogos de estilo europeu mais populares é o Descobridores de Catan, em que os participantes usam recursos naturais de uma ilha para fazer construções (veja no quadro abaixo). Criado em 1995 pelo então protético alemão Klaus Teuber, já vendeu mais de 15 milhões de cópias em todo o mundo, o dobro do fenômeno Halo 3, do Xbox 360. Na Alemanha, para se ter uma ideia do interesse do público, as críticas de jogos dividem espaço com as de cinema e teatro nos jornais. No Brasil existe uma comunidade formada em torno dos tabuleiros.

A casa Ludus, em São Paulo, que funciona como ponto de encontro e tem mais de 6 mil jogos disponíveis, promove o campeonato Euroliga. Os competidores são um pouco diferentes da média dos frequentadores da Ludus, que normalmente jogam conversa fora sobre qualquer assunto. Em volta das mesas da Euroliga figura gente do tipo que se alterna em listas de discussão sobre o seriado Lost ou o sistema operacional Linux. “Gostando dessas coisas, é um milagre que eu não seja mais virgem”, brinca Vince Vader. No dia em que a reportagem da Galileu esteve na Ludus havia uma única mulher no ambiente — a coordenadora de projetos de informática Camila Alonso, 26 anos. “Eu tenho um perfil geek”, diz Camila.

Sem violência
Nos eurojogos não há guerras. Os criadores preferem conflitos em torno de desenvolvimento de cidades como o Carcassonne ou colonização de países, o que acontece em Puerto Rico. As regras são simples, ninguém é eliminado antes da rodada final e não há combate direto entre os participantes. A vitória vai para quem desenvolve melhor seu pedaço da ilha ou constrói primeiro sua ferrovia. Quem quiser levar um eurojogo para casa vai desembolsar até 200 reais, por isso muita gente prefere se reunir nos clubes especializados. “Nunca me imaginei indo a um lugar com desconhecidos para jogar em volta de um tabuleiro. Achei nerd no começo, mas percebi que ir ao cinema é até mais isolado. Aqui acabei conhecendo muita gente nova”, diz o designer de jogos Luish Moraes Coelho, frequentador da casa de jogos Clube do Um, em Belo Horizonte.

VALE A PENA CONHECER | Os quatro jogos mais populares do mundo “real”
  Divulgação

Crédito: divulgação
CARCASSONNE >>> O objetivo é construir cidades medievais fortificadas, campos, estradas e mosteiros. Os blocos usados para essa construção determinam, a cada jogada, novo formato ao tabuleiro
  Divulgação

Crédito: divulgação
PUERTO RICO >>> O tabuleiro é a ilha de Puerto Rico na fase de colonização e cada jogador tem o seu. Ganha quem montar maior infraestrutura e/ou mandar mais mercadoria para a metrópole
  Divulgação

Crédito: divulgação
DESCOBRIDORES DE CATAN >>> Colonos devem gerar desenvolvimento, construir vilas, portos e estradas com recursos naturais de uma ilha. Ganha quem construir a aldeia mais próspera
  Divulgação

Crédito: divulgação
TICKET TO RIDE >>> O jogo transcorre numa estrada de ferro e cada participante tem um destino oculto diferente. Vence quem tiver a rota ferroviária mais completa até o final

 

TABULEIRO VIRTUAL
Geek que é geek joga no tabuleiro do iPad. O gadget da Apple, lançado em abril deste ano, já tem uma série de aplicativos que simulam os jogos desse tipo em sua tela de 9,7 polegadas. Vários destes programas são desenvolvidos pelos próprios fabricantes dos jogos de tabuleiro tradicionais, que estão digitalizando seus títulos para vendê-los para mais gente na web. O aplicativo Game Table, por exemplo, transforma a tela do iPad em um tabuleiro para jogos populares como pôquer e dama. Há ainda o Monopoly, conhecido no Brasil como Banco Imobiliário, disponível na loja virtual. O popular Descobridores de Catan por hora só existe na versão para iPhone. Além da mesma interatividade dos tabuleiros comuns, as versões digitais de tabuleiro são portáteis e muito mais baratas. Entre US$ 0,99 e US$ 8. No iPad, os jogadores solitários ainda têm a vantagem de brincar no modo multiplayer (jogar com outras pessoas conectadas pela rede wi-fi ou 3G). Em um futuro próximo, os mesmos fabricantes planejam desenvolver aplicativos para funcionar junto com o iPhone — em um jogo de cartas, por exemplo, você poderá ver o que está em sua mão pela telinha do celular e arrastar as cartas para o iPad.
  Divulgação

Crédito: divulgação